Deivison Mendes Faustino
“Por que Fanon, por que agora?” Pergunta-se Stuart Hall ao constatar a retomada do pensamento deste autor literatura de língua inglesa da década de 1990. Essa pergunta é brilhantemente retomada e reformulada por Deivison Faustino em “A disputa em torno de Frantz Fanon: a teoria e a política dos fanonismos contemporâneos”.
Frantz Fanon (1925-1961), em sua atuação como médico psiquiatra e intelectual orgânico da Frente de Libertação Nacional da Argélia, deixou um reconhecido legado político e teórico, fortemente associado ao terceiro-mundismo revolucionário e aos movimentos anticoloniais.
Algumas décadas depois de sua morte precoce, seu pensamento foi retomado e associado aos estudos culturais e pós-coloniais anglófonos. Hommi Bhabha chegou a eleger Fanon como o inaugurador da perspectiva pós-colonial. Após essa retomada, seu legado passa a ser associado também à outras tradições como o giro decolonial, esquizoanálise, a fenomenoloia existencial e o marxismo, expondo diferentes visões sobre o que seria o seu estatuto teórico e contribuições para o entendimento da sociedade contemporânea.
O conjunto de questões que emerge, a partir daí, é: afinal, Frantz Fanon é “anti”, “pós” ou “de”-colonial? Qual a sua relação com o marxismo, o movimento de negritude, o existencialismo e psicanálise? Existem vários Fanon(s) ou seria melhor falarmos em uma disputa em torno de seu legado e pressupostos teóricos? Estaria o anunciador da disputa isento de uma posição e interesses teóricos particulares em seu interior? “A disputa em torno de Frantz Fanon”, de Faustino – baseado em sua pesquisa de doutorado, laureado pela Menção Honrosa no Prêmio Capes de Teses de 2016 – é uma importante contribuição ao entendimento da recepção de Frantz Fanon no Brasil e, sobretudo, das disputas, negociações e rupturas implícitas aos antirracismos e às ciências sociais e humanas contemporâneas.