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MEMORIAL ZUMBI:  a reconquista da Serra da Barriga

 

            A ideia de criação do Memorial Zumbi é sonho muito antigo. Porém, a proposta mais concreta para sua realização surgiu em junho de 1979, quando uma equipe da Fundação Projeto Rondon solicitou à Empresa Brasileira de Turismo – Embratur estudo da possibilidade de se implantar o Parque Histórico do Zumbi na Serra da Barriga, no município de União dos Palmares, em Alagoas.

            Encaminhada a ideia, o governo do Estado de Alagoas se junto à Universidade Federal de Alagoas, derivando daí um convênio firmado entre as duas instituições e a Fundação Projeto Rondon, com o objetivo de desenvolver estudos necessários à implantação do parque histórico, no local onde existiu o mocambo Cerca Real dos Macacos – Serra da Barriga -, centro administrativo e político do Quilombo dos Palmares.

            Em agosto de 1980, a Universidade Federal de Alagoas realiza em Maceió seminário para a criação do Parque Histórico Nacional Zumbi, reunindo cerca de 70 (setenta) convidados entre sociólogos, antropólogos, historiadores, ativistas do movimento negro e outros estudiosos da temática negra no Brasil, além de representantes de instituições oficiais. Durante o seminário o projeto ganhou maior dimensão, estabelecendo-se como meta fundamental a instalação ali de um polo de cultura de liberdade do negro brasileiro. O nome “Parque Histórico Nacional Zumbi”, foi mudado para Memorial Zumbi: parque histórico nacional. Ou seja, o projeto inicial que tinha como objetivo principal criar um polo turismo a partir da história do Quilombo dos Palmares, com a participação dos ativistas negros e estudiosos da história do Quilombo dos Palmares nesse encontro, inverteu-se o objetivo e o olhar sobre a História do Quilombo dos Palmares, construir um Memorial à Zumbi para estudar a História do Quilombo dos Palmares e todas as lutas e conquistas da população negra brasileira e a diásporica africana em todo mundo. O turismo passo dessa forma a fazer parte desse equipamento histórico, apenas como uma das ações que agregariam valores e divulgação da História do Quilombo dos Palmares.

Resultou desse seminário a formação do Conselho Geral do Memorial Zumbi: Parque Histórico Nacional, órgão criado com a participação de representantes do movimento negro, sociedade civil e representantes dos governos federal, estadual e municipal. Para executar as deliberações do Conselho Geral, foi criado do Conselho Executivo. Presidia esse conselho o antropólogo Olímpio Serra, na secretaria o historiador Joel Rufino dos Santos e na tesouraria, o advogado Carlos Alves Moura. Uma das primeiras providencias do conselho foi requerer ao governo federal o tombamento da Serra da Barriga.

Em 20 de novembro de 1985 o tombamento da Serra da Barriga foi homologado, publicado no DOU, nº 22 de 30 de janeiro 1986. Ela está inscrita no Livro de Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico do Instituto Histórico Artístico Nacional – Iphan – com o nº 090, de natureza caracterizada como Conjunto Histórico Paisagístico. Em 21 de março de 1988, foi declarada Monumento Nacional pelo decreto nº 95.855, pela presidência da República e, pelo decreto nº 96.038, de 12 de maio de 1988, declara de utilidade pública para fins de desapropriação, com a seguinte destinação: “A área desapropriada destinar-se-á a estudos antropológicos, arqueológicos, históricos, ecológicos, reflorestamento das áreas naturais, e integrará o Patrimônio do Ministério da Cultural”.

Participaram do primeiro seminário, através de representantes as seguintes instituições: Universidade Federal de Alagoas, o governo do Estado de Alagoas, e o Ministério da Educação e Cultural, (Fundação Nacional Pró-Memória, e Coordenação do Pessoal de Ensino Superior-Capes), e representações do movimento social negro do Brasil: Movimento Negro Unificado Bahia, Ceará, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro), Movimento Negro Alma Negra do Amazonas, Centro de Estudos Afro-brasileiros de Brasília, Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-brasileiros da PUC – São Paulo, Centro de Estudos Afro-asiáticos da Universidade Cândido Mendes do Rio de Janeiro, Instituto Brasileiro de Estudos Africanistas de São Paulo, Centro de Cultura Negra do Maranhão, Movimento Negro do Pará, Centro de Cultura e Emancipação da Raça Negra de Recife e João Pessoa, Grupo de Trabalho André Rebouças do Rio de Janeiro e Grupo de Trabalho de Profissionais Liberais Universitários Negros de São Paulo.

Referência bibliográfica

Azevedo, João. Universidade Federal de Alagoas: documentos históricos. – Maceió: Ufal, 1982.

 

Marechal Deodoro, 16 de outubro de 2020.

Zezito de Araújo